O Dia em que a Menina Nasceu
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Posso dizer que o que não faltou para a minha estréia nas telonas de sucesso do cinema brasileiro foi emoção!
17 de agosto de 2010 seria o dia em que minha filha nasceria, mas eu não sabia e por isso fui gravar um filme em Campinas.
O filme era o Colegas e eu ia participar como pianista figurante em uma cena.
Se tratava de uma história de três adolescentes com síndrome de down que roubavam um carro no lugar onde viviam e saiam mundo a fora em aventuras.
Ariel, Rita e Breno interpretavam Stallone, Aninha e Márcio na história. Muito simpáticos e talentosos os três! Me fizeram lembrar minha tia Zete que também tinha síndrome de down…
A cena se passava em um restaurante na Argentina, mas foi gravada no Círculo Militar em Campinas.
Cheguei lá cedo, umas 07:00 da manhã, e não havia ninguém pra receber os 50 figurantes que iam chegando aos poucos. Lá pela 09:00 apareceu o diretor de cena e me chamou pra dar uma olhada no piano.
Fui lá, mas o que tinha era um piano digital com móvel que imitava um piano de cauda. A cauda não passava de 70cm (em um piano de ¼ de cauda a cauda mede pelo menos 150cm). Fui sincero: “cara, esse piano ai não vai ficar bom na cena, não… ele é muito pequeno, não parece piano.”
Havia também um violoncelo, então ele olhou pro lado, viu o violoncelo e me perguntou “você não toca violoncelo?”. Quase respondi “cara, você já perguntou a um taxista se ele pilota helicóptero???” A equivalência é quase a mesma, acreditem…
Enfim, recomendei a eles que locassem um piano para a cena, mas disseram que era muito caro e fomos daquele jeito mesmo.
Já era umas 10:30 da manhã quando o telefone tocou. Era minha sogra dizendo que a minha esposa tinha ido pro hospital e que a Helena, minha filha, ia nascer logo mais.
A cena tinha umas 50 pessoas e eu tocando piano. Pra não dar qualquer erro de continuidade eu precisava ficar ali até o fim, mas ainda eram 10:30, a gravação iria até às 17:00 e a Helena já queria nascer!
Fui imediatamente falar com a assistente de direção e ela disse “caramba…! Segura ai mais um pouco.”
E fui segurando até às 17:00. Nesse tempo todo eu me senti no inferno de tanta agonia – não me interpretem mal: a gravação estaria ótima e o clima super bom se minha filha não estivesse nascendo!
Na hora do almoço descobri que resolveram alugar o piano para a gravação e que então à tarde já gravariam com o piano.
Enfim, às 17:00 a luz não era mais boa e não adiantava mais continuar a gravação. Me liberaram.
Em todos anos em que morei em Campinas e fazia o trajeto Campinas x São Paulo jamais realizei o percurso em tão pouco tempo. Devo ter ido a uns 170km/h, mas felizmente cheguei bem e a Helena me esperou, só nasceu às 21:18!