Com o pé direito… e o esquerdo também!

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Lembro como se fosse hoje, pois eu estava exatamente onde estou agora (na academia de natação da minha filha): em uma sexta-feira do fim de novembro Daniel Muller me ligou perguntando se eu queria gravar em fevereiro o Concerto Carioca nº 2 de Radamés Gnattali. Fiquei muito feliz com o convite, mas confesso que pensei comigo “bye, bye, férias… bye, bye tranquilidade…”. Eu sabia o que me esperava. Sabia que ia ter que correr muito pra conseguir aprender o concerto tão rápido, mas há oportunidades na vida que aparecem uma única vez e não dá pra recusar.

Em 2014 eu já tinha visto um documentário em que o Radamés tocava um concerto com um regional de choro. Fiquei impressionado e vi naquilo uma revolução na música brasileira. Revolução em concepção, em música, técnica, em tudo. Lendo o livro “Choro do Quintal ao Municipal” do Henrique Cazes só confirmei essa impressão. O concerto era o Concerto nº 3 Seresteiro para piano e orquestra de 1962 ao qual Radamés fez uma adaptação adicionando a Camerata Carioca. Ao descobrir isso imediatamente pensei “preciso gravar esse concerto!” , mas a dificuldade de encontrar uma orquestra que topasse, de montar uma camerata, a dificuldade de editoração das partituras (são manuscritos) me fizeram desistir desse projeto uns meses depois.
Nesse mesmo ano meus amigos do grupo Quatro a Zero conseguiram, depois de uma batalha de 6 anos, fazer a editoração e tocar um outro concerto: o Concerto Carioca nº 3 (para 2 pianos, baixo, bateria, acordeão, guitarra e orquestra). Fui assistir e fiquei muito feliz com o que vi. Foi ai que me contaram que pretendiam gravar esse concerto com a orquestra de Campinas, mas seria um projeto futuro. O futuro foi 4 meses depois, nem eles imaginavam. O que aconteceu foi que a orquestra gostou tanto do projeto que resolveu bancar já em 2015 a gravação de um CD com os 3 Concerto Cariocas de Radamés Gnattali. E foi ai que o Daniel me ligou convidando para gravar um dos concertos. Aceitei e dai foram efetivamente 2 meses de estudo para ler, aprender, memorizar e gravar o concerto.

O Concerto Carioca nº 2 foi composto e 1964 e dedicado ao Tamba Trio (um dos trios mais famosos da época da bossa nova) e por isso tem como instrumentos solistas piano, baixo e bateria com a orquestra.
Não é o concerto que eu pensei que gravaria num futuro distante, mas em música e em concepção é igual ou melhor. Uma concepção contemporânea do compositor de perceber o que acontece à sua volta, em sua época e colocar na sua música. Radamés simplesmente usou uma linguagem da música brasileira que estava em voga na época (a bossa nova) e levou para sua música de concerto de forma genial. Não é um simples arranjo em que a orquestra acompanha o trio, mas sim um concerto, com 3 movimentos, em que o trio é o solista e divide, dialoga, soma e compete com a orquestra.

Os 3 concertos gravados foram:

– Concerto Carioca nº 1 para piano (Rafael dos Santos), guitarra elétrica (Eduardo Lobo) e orquestra.

– Concerto Carioca nº 2 para piano (Hercules Gomes), contrabaixo (Danilo Penteado), bateria (Lucas Casacio) e orquestra.

– Concerto Carioca nº 3 para dois pianos (Daniel Muller e Rafael dos Santos), guitarra elétrica (Eduardo Lobo), contrabaixo (Danilo Penteado), bateria (Lucas Casacio) e orquestra.

Foi um projeto incrível, inesquecível e histórico pra mim! Foi um grande desafio em que aprendi muito.

Em breve então estará na praça o CD Concertos Cariocas de Radamés Gnattali com a Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, maestro Victor Hugo Toro e toda essa turma solando os concertos!

 

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