Virtuosi

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Sentado no palco ao lado de seu xará entrevistado, Fábio, o curador, perguntou “Como você se define como pianista?” Imediatamente fiquei pensando no que eu responderia quando a mesma pergunta me fosse feita dois dias depois, após meu recital. Certa vez perguntaram ao Nelson Freire porque ele não tocava música contemporânea. Ele respondeu que música contemporânea preferia deixar para os outros tocarem. Achei genial. Copiei essa reposta. Sim, eu copio muita coisa e creio que seja melhor assumir logo porque uma hora a máscara cai, sempre cai. Essa resposta do Nelson uso até hoje para perguntas que não sei ou não quero responder, digo “Essa resposta prefiro deixar para os outros”.

Fabio Martino, Ronaldo Rolim e Juliana D’Agostini . Os momentos que mais aprendi naqueles 3 dias do fantástico projeto Virtuoses do Piano Brasileiro foi quando eu os ouvia falar sobre estudos e carreira. Incrível perceber como cada um é diferente do outro e ao mesmo tempo como todos conseguem aos poucos achar seu caminho e sobreviver da música que gostam . Uns 15 anos atrás, por volta de 2002, eu queria muito ser como esse meus três amigos virtuoses clássicos. Ah como eu queria…! Queria tocar concertos de Rachmaninof, sonatas de Beethoven, estudos, valsas e polonaises de Chopin e por ai vai. O problema é que além de mim mais um milhão de pianistas ao redor do mundo também queriam. É uma coisa muito boa, mas ingrata, de fato. Hoje ainda quero tocar, mas assumo que não dá tempo de estudar e acabo contribuindo mais fazendo o trabalho que faço com minha música no piano.

Pelo que fiquei sabendo não seria eu o quarto pianista a ser convidado para participar dos recitais e entrevistas, afinal era um projeto de piano clássico e ”sub 30”. Provavelmente Cristian Budu completaria o quarteto, mas acho que ele não pôde. Então me convidaram, isso para não chamar mais um pianista clássico. Fiquei extremamente feliz, confesso. O anfiteatro era adaptado. As enormes paredes de mármore faziam a reverberação se aproximar à de uma grande catedral. Por 3 dias a Caixa Cultural virou uma grande caixa de cultura pianística. Meu desafio era hercúleo, pois iria estreiar um repertório completamente novo e inteiramente dedicado a Ernesto Nazareth. Não foram as melhores execuções dos arranjos, confesso, mas as primeiras nunca são as melhores mesmo. O público entretanto gostou muito e foi o primeiro passo para que eu pudesse continuar minhas Transcrições Nazarethianas.

Primeiro a gente tocava e depois acontecia um bate-papo. Uma noite para cada pianista. Estive e todas as noites, inclusive na minha, claro. Lembro-me de alguns flashs, algumas frases das respostas deles: “Estudo 8 horas por dia”, “Estudo quando tenho vontade, pois o desapego é importante também”, “Concursos são importantes, mas só a vitória nos mesmos não basta para construir carreira”. “Rubinstein (o Arthur) dizia que nenhum ser humano em sã consciência deveria estudar mais que 3 horas por dia”, “Marketing é fundamental”. O esforço para chegar onde chegaram é uma coisa em comum entre todos. Isso todos declararam. Eu também.

Sempre achei romântico demais o ditado que é muito comum entre músicos e que diz que a gente não escolhe a música (ser músico), mas sim a música nos escolhe. Entretanto tenho que admitir que é crível a ideia de que todos temos uma missão, de que nada acontece por acaso, ou que talvez, ao contrário, seja o acaso que reja todas as coisas. Interessante, muito interessante, foi notar que esses 3 meninos que são meus jovens ídolos, todos os três, me disseram que já conheciam meu som e admiravam muito.

Se me encaixo nesse conceito de virtuose como eles? Essa resposta prefiro deixar para os outros…

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